quinta-feira, agosto 02, 2007

Peta (II)

Uma boa história de terror terminaria aqui. Sem problemas, apenas uma noite, um susto, algo pra levar para o resto da vida e passar adiante. Só que isso aqui não é uma história de terror. Pelo menos, não uma boa.

O Peta continuou a ver a moça fantasma. Acho que porque não morreu ali. Cada vez que ele passava pelo trecho à noite, ela estava lá. E ele começou a pegar ela de novo. Toda noite que ele viajava pela estrada a mesma coisa: pegava ela, era chupado e depois vinha o caminhão fantasma. Ele nem se preocupava em desviar. Sabia que era só uma luz na noite, pouco mais estranha que um peido colorido, sem substância. Também sabia que a moça que estava ao seu lado não era mais humana, nem remotamente. Mas sua boca era quente e molhada, e ele não se importava. Até que um dia ele resolveu ir adiante com a “moça”. Ele não estava mais nem um pouco assustado. E parou o carro no trajeto, para tentar comer a moça fantasma.

Uns dizem que o que ele viu do seu lado foi o que a polícia encontrou nos destroços do carro dos noivos, anos antes. Outros que foi algo de natureza diferente. Chegaram a ir atrás do Peta no banheiro pra ver a menina tinha devorado as partes dele. Não tinha. Mas ele mudou. O cabelo dele começou a mostrar sinais grisalhos de uma hora para a outra, e em dois anos ficou completamente branco. E durante meses ele olhava para você com um jeito vazio, incapaz de tirar da cabeça o que quer que tenha visto.

Ele nunca comentou o que aconteceu com ninguém.

Daí, na sorveteria, só o que eu tive que fazer foi perguntar a ele:

- Mas me diz uma coisa, Peta, que eu tenho curiosidade de saber: o que foi que houve aquela noite na estrada? Cê comentava tudo com a gente, depois daquilo ficou calado... hein? Que aconteceu?

Imediatamente ele fechou a cara, lembrou que tinha ficado de dar banho no gato da sobrinha e saiu de minha vida. Espero que definitivamente. É, eu sei que foi um golpe baixo. Também sei que ele deve ter se sentido infeliz. Mas, se você está pensando nisso, manda seu telefone que eu envio pro Peta e ele entra em contato com você. Só faça uma anotação mental de como mandá-lo embora, caso precisem, senão ele gruda em você que nem chiclete e pode acabar morando na sua casa. E não diga que não avisei.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o conto. Na verdade fiquei pensando o que eu faria se fosse o Peta... afinal um bola-gato sempre vai bem, nem que seja de outro mundo!
E lá vou eu de novo confundindo realidade com ficção (ô cara burro), mas me diz uma coisa: A persona do chato existe não é? Ao menos todo mundo conhece um!
hehehe

Um abraço
Mainardi

InVinoVeritas disse...

Cara, recomendo a leitura do Tratado Geral dos Chatos. É um livrinho pseudocientífico que busca identificar, catalogar e medir a chatice das pessoas. Se não me engano o autor é um tal de J. Figueredo. Mas posso estar enganado.
E eu já conheci chatos que tinham orgulho de serem chatos!!! E chatos que não percebiam que estavam chateando nem se você entalhasse a razão do chatume com uma faca na testa deles...
8(
Enfim. Valeu a visita!!!

Leo Vidal disse...

Issaí...