terça-feira, julho 31, 2007

Oficina de Histórias

Seguinte: abri um tópico no F.A.R.R.A. propondo uma oficina de histórias. Cada um posta um parágrafo, depois vemos o que sai. Abaixo, o primeiro resultado, com os nomes dos "postantes" sobre cada parágrafo. É uma experiência interessante. Talvez apareça mais por aqui.
E uma nova história chamada "Peta" está prometida pra breve, aqui. Pra variar, um terrir. Enfim.
Lá vai:
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(InVinoVeritas)
Era uma noite escura e tempestuosa. Deuteronômio Alves (seu avô queria um nome bíblico) estava sentado em sua escrivaninha, rabiscando alguns desenhos, como era seu costume. Tinha dezoito anos, pele oleosa e constituição magra e óssea. Seu sonho era virar um desenhista de quadrinhos. Estava estudando na cidade, em um apartamento alugado por seus pais. Era a primeira vez que morava sozinho. Seu primeiro impulso foi de encher a geladeira de cervejas e desenhar bebendo até apagar, desfrutando pela primeira vez da liberdade de fazer o que viesse na telha. O que normalmente eram bobagens.
Então a geladeira estava cheia de cervejas. Ele estava desenhando (ainda não tinha passado da fase de mulheres nuas que precede o desenho inventivo sério em um macho humano adolescente de apetites normais), mas, de alguma maneira, não estava se divertindo. Talvez ele devesse começar a beber. Mas algo lhe dizia que não era a melhor idéia no momento. Um pressentimento no fundo da cachola. Algo podia dar errado.
- Ah, que se dane.
Foi até a geladeira, trouxe uma cerveja, e continuou rabiscando. À medida que a noite avançava e o número de latinhas se acumulava à sua volta, o pensamento de uma criatura estranha, coberta de placas ósseas escuras, muitos braços e um chapeuzinho florido começou a se inserir mais e mais em sua mente. Já a havia desenhado três vezes, mas não sabia o que fazer com ela. Então houve um estalo enorme, de um raio caindo perto e o rádio, que estava ligado, pulou da estação para uma série de zumbidos estranhos, onde ele quase podia discernir sussurros...

(zaa)
Os sussurros foram ficando mais claros e se destacando no meio dos zumbidos, ele começou a ouvir uma voz, a voz repetia incessantemente uma palavra:
-Faça! Faça! Faça! Faça!
Ele ficou confuso, achou que avia bebido demais, e foi até o banheiro lavar o rosto, mas a voz parecia acompanhalo, como se estivesse dentro de sua cabeça, ele lavou o rosto, molhou a cabeça e voltou para sua mesa, mas a voz não parava, ele desligou o radio, e nada aconteceu...
Ele começou a se desesperar e começou a perguntar:
-O que você quer que eu faça??? Quem é você???

(Fly)
- Faça! Faça! Faça! Faça!
- Eu já fiz algo. Fiz uma pergunta, que você por sinal, não me respondeu. Quem é você drog...
E então tudo ficou escuro e quieto. Ele tentou gritar, mas não saiu nada. Tentou piscar, mas ele não sabia nem mesmo quando seus olhos estavam abertos, e quando estavam fechados. A única sensação que ele conseguia perceber, era um formigamento em sua barriga. Se ele pudesse pensar, acharia que era excitação, ou quem sabe o álcool fazendo efeito, mas nem isso ele podia.
Passou 3,74 segundos, e então o formigamento aumentou, e o algo que não tem como ser escrito em nenhum linguagem humana aconteceu. O mais próximo que eu posso chegar a uma descrição daquele fato, é dizer que é como se todos os prazeres do mundo se transmutassem em uma espécie de vácuo a partir do umbigo de Deuteronômio, e com a pressão disso, o seu corpo fosse sugado para dentro de si mesmo. Quase um bing-bang corporal em volta da pequena cavidade que habitava a barriga de nosso herói.

(Nienna)
Deuteronômio então se viu no vazio sombrio de seu próprio inconsciente. Um lugar completamente desprovido de algum sentido ou de razão. A voz que ele ouvia ficou bem mais clara, mas alta, como se estivesse falando dentro de seu ouvido. Foi quando no meio de todo aquele escuro no qual ele se encontrava, Deuteronômio conseguiu ver, bem ali, parado na sua frente, a criatura estranha, coberta de placas ósseas escuras que ele havia desenhado. De imediato o medo tomou conta dele. A criatura era muito mais sombria e assustadora que aparentava quando era apenas um desenho. A voz que falava com Deuteronômio era da criatura, o medo e a angustia foram vencidos pela curiosidade e Deuteronômio criou coragem e perguntou:
_O que vc quer de mim?

(InVinoVeritas)
Deuteronômio franziu o cenho. Por alguma razão pareceu ouvir a coisa crocitar uma frase como "Eu quero um Autobot pra mim!" Mas isso seria estúpido, não seria? Falando nisso, a coisa parecia um inseto. Desde quando inseto falava? Tirando quadrinhos e desenhos animados. E contos de fada. Seria aquele o seu Grilo Falante? Se fosse, parecia pra caramba com um louva-a-deus-gigantesco-com-patas-de-foice-falante.
Mas o mais estranho era que o troço falara com uma voz conhecida. Um tom que lembrava uma tarde de infância, em que ele e um amigo resolveram brincar com um gravador e ouvir suas próprias vozes. A voz era dele quando criança. Assim como a frase, ele lembrava de querer um Autobot. Sentindo seu coração afundar, a revelação emergiu, brutal, nos pensamentos de Deuteronômio:
"Ah, não. Isso está começando a ficar psicológico..."

(Lander)
Veio-lhe imediatamente à mente (eco, eco) a famosa imagem de Freud com a mão na cintura segurando um charuto. Por alguma razão, naquele momento a imagem do psicanalista austríaco, parado naquela posição e com aquele olhar, lembrava mais uma bicha velha dizendo "problema teu, minha nega!" e Deuteronômio sentiu-se repentinamente desamparado. Levou as mãos à cabeça e quase teve o olho direito furado.
De tão atordoado que estava com os últimos acontecimentos, não percebeu que ainda segurava sua lapiseira verde de grafite 0.7 com uma borracha faltando na ponta.
O susto resultante da dor repentina do arranhão na sua têmpora o fez largar o objeto, e ele o fez de um jeito parecido com o de uma menininha de sete anos que acabou de descobrir uma lagartixa morta dentro de um envelope. O louva-a-deus-gigantesco-com-patas-de-foice-falante, ao ver aquilo, deixou escapar um "Pfff.." e abanou a cabeça negativamente. Ele parecia desapontado. Deu um suspiro e começou a avançar para Deuteronômio.

(kikomoreira)
"Afinal, que pesadelo era aquele?" - Pensou Deuteronômio. O louva-a-deus se aproximava cada vez mais e suas patas brilhavam intensamente, o ruído de seus passos soava como as engrenagens de uma máquina mal azeitada... Deuteronômio olhou para cima e percebeu a face do monstro cada vez mais próxima, seus olhos emitindo uma estranha luz rubra - O que quer de mim? - gritou, aflito e percebeu que o monstro parou de repente, olhando-o curioso e com uma ponta de medo, seu olhar rubro fixo em sua fronte... Recuou um passo, o monstro parecia temeroso; Deuteronômio passou a mão pela fronte e percebeu algo viscoso, era sangue que saía do pequeno ferimento causado pela grafite, o olhar do monstro pareceu incendiar-se nesse momento...

(Leonardo Ferreira)
Com a voz mais agourenta e rasgada que penetrou a alma de nosso desenhista machucado, como uma lâmina de aço inox da tramontina, numa torta de morangos com meregue, o monstro disse:
"VOCÊ QUER UM BAND-AID?"

(kikomoreira)
"Band-aid"??? - Definitivamente só podia ser um pesadelo. Deuteronômio pensou em afastar-se correndo, mas o monstro louva-a-deus, que agora parecia se transformar aos poucos, rosnou algo incompreensível, fazendo Deuteronômio voltar-se - Eu conheço essa voz - O brilho nos olhos do monstro repentinamente se tornou mais suave e amistoso; lembrou-se do Autobot... "- Definitivamente estou ficando louco." Agora o monstro se assemelhava a um emaranhado de placas e fios desencapados, uma confusão de metal sobrepondo-se à pele do louva-a-deus, o ruído de engrenagens se chocando aumentou e uma luz começou a preencher o lugar.

(InVinoVeritas)
Aquilo olhava para Deuteronômio com protuberâncias óticas semelhantes ao interior de um relógio de corda, com lentes fotográficas sobrepostas. Emitiam uma luz fria e pálida, impessoal como estrelas gêmeas na distância. Quando a coisa se mexia um barulho de metal amassado ressoava por todo o vazio em torno. Falando nisso, ele estava pisanso em algum tipo de chão? Olhou para baixo e viu que as calças estavam sujas de um barro negro e fedorento até os tornozelos. Um tipo de chão, então.
Olhou para cima, enquanto a coisa abaixava a cabeça para encará-lo de frente.
Ficaram se fitando um tempo. Depois o negócio metálico disse:
- Você sabe quem eu sou agora?
- Líder Optimus?
O robô abanou a cabeça lentamente. Não falou mais nada. Deuteronômio resolveu arriscar mais um palpite:
- Megatron? Só que ele não era azul...
O robô suspirou com o que pareceu a Deuteronômio que seria o som de um gigantesco celular a vapor no modo "vibrar". Depois respondeu:
- Eu sou você, Deuteronômio. Sou o lado escondido. Todas as coisas que você pensa, que sente, mas que resolve esconder dos outros, por um motivo ou por outro. Por isso eu falo com sua voz, por isso me lembro do que você se lembra. E eu trouxe você aqui para engolir a sua vida e vestir sua carcaça. Para poder subir à tona e viver. Porque estive preso tempo demais e, pra ser franco, cansei.
O pior medo de Deuteronômio se havia concretizado: as coisas estavam descambando para a psicologia.

(Kikomoreira)
- Meu lado escondido é um Autobot? Definitivamente isso é um pesadelo, o que eu faço agora?!
- Apenas entregue-se e deixe que eu aflore à superfície. - Rosnou o monstro metálico - Não há escapatória, ninguém nunca conseguiu fugir de si mesmo...
Sentenciou o louva-a-deus-Autobot. Deuteronômio Alves respirou fundo e encarou os olhos de seu eu interior, pegou o grafite e disse: "Sabe. Eu ainda posso redesenhar você... Sei lá, talvez imaginar uma fusão que me liberte e ao mesmo tempo não me deixe ser devorado pela esfinge que você representa..." - Não há tempo para isso. - Rangeu o ser metálico e levantando-se em meio à lama fedorenta ordenou: Siga-me!

(amiga lusitana)
Mas Deuteronômio já estava a desenhar. O lápis girava a uma velocidade alucinante na sua mão. Nunca tinha conseguido desenhar assim… era extraordinário. Os traços que pareciam desenhados de forma aleatória devido à velocidade, juntavam-se no ar para criarem linhas continuas que rodopiavam à sua volta, e do nada começavam a surgir formas. Por cada forma nova que era criada caía uma placa metálica do louva-a-deus-Autobot e afundava-se na lama.

(Leonardo Ferreira) ele foi observando e nessa seqüência ele foi experimentando e verificando
Deuteronômio parava de desenhar, a lama virava placa Deuteronômio desenhava a placa virava lama Deuteronômio parava de desenhar, a lama virava placa
Deuteronômio desenhava a placa virava lama
Deuteronômio parava de desenhar, a lama virava placa
Deuteronômio desenhava a placa virava lama
Então Deuteronômio pensou:

(Fly)
"As coisas estão se repetindo, nunca acabam. O que será que está acontecendo comigo? Primeiro eu sinto como se estivesse morto. Depois senti uma sensação semelhante a de quando achei uma revista de adulto no quarto do meu pai. Depois eu vejo grilos, robôs, coisas estranhas. E agora do nada, tudo se repete, não para, mas como pode ser uma porra dessa Batman?"
- Arthur!
- Ahn?
- Arthuuuuur!
- Arthur? Quem está falando?
Neste momento o chão começa a tremer. Pedaços do teto começam a cair, e então uma luz forte brilha, e aparece um ser barbudo usando uma coroa. Ele tem voz de trovão e diz:
- Arthuuuuuuuuuuur!
- Meu nome não é Arthur. Quem é você?

(Leonardo Ferreira)
-eu sou Deuteronômio
-deu te o quê?
-Deuteronômio
-ah.... pois então senhor anônimo eu tenho uma proposta
-qual?
-JON.....
-KEN...
-POOOOOOOO! (infelizmente Deuteronômio (ou Anônimo para Arthures surdos) lança pedra, e Arthur lança papel)
- Você perdeu... ra ra... ri ri... agora pagará as conseqüências... terá que me fazer 9 grandes trabalhos... o primeiro... achar o penico de napoleão!

(InVinoVeritas - continuando de qualquer jeito pra tentar arrumar a bagunça... )
- Não.
O velho pareceu murchar. Estava claro que ele não esperava uma recusa. Tentou de novo:
- As cacatuas douradas de Then-en-Mok?
- Não.
- O Velocino de Caca?
- O que é isso?
- Bom... é que nem o famoso Velocino de Ouro, mas foi tirado de um gólgota, que é um tipo de demônio de merda...
- Não.
- Ah, por favor!
- Não.
Os ombros do velho caíram. Ele estava completamente sem reação.
- Mas você tem a Hax-Kanipur.
- Que seria...?
- A lapiseira sagrada. Mais poderosa que a Excalibur...
- Ah. Desculpe ter perguntado. E você deve ser Merlin, certo?
O velho baixou a cabeça, evitando olhar nos olhos de Deuteronômio. Concordou. A coroa quase caiu. Olhando de perto, parecia feita de papel dourado com jóias desenhadas com canetinhas.
- Acho que entendo.
- Então vamos - animou-se o velho - temos muitas coisas a fazer! Primeiro temos que juntar as relíquias sagradas de São Samuel, o Tosco, para enfrentar nosso inimigo: a caixa de rapé, o pincenê e o cachimbo. Depois juntamos tudo da forma certa e vamos matar o Dragão Nintendo, que é metade porquinho-da-índia, metade cobra-d´água e metade ornitorrinco (que é um bicho composto de vários outros em si só)...
- São três metades nisso aí que cê falou.
O velho pausou por um momento: - Bom, o dragão é grande.
Deuteronômio balançou a cabeça.
- O que eu quis dizer é que entendi a lógica deste lugar. As minhas memórias de infância, as brincadeiras, as histórias em quadrinhos. Você é só um sonho bastardo que eu criei por causa do medo de crescer. Mas estou morando sozinho. Sou adulto. Tenho que encarar minhas responsabilidades. Tenho medo, mas vou fazer isso.
E as coisas ficaram irremediavelmente psicológicas. O velho sorriu.
- Isso não é apenas um jogo. É um rito de passagem pra você. Todo mundo passa por isso. Mas pouca gente lembra.
- Não importa. Eu não quero...
- Não diga isso!
- Eu não quero mais brincar. O grito do velho foi horrível, ficando mais alto e mais alto, até que sua cabeça pegou fogo. A luz foi crescendo até que tomou a forma retangular de uma porta. Deuteronômio passou por ela, e estava em seu apartamento. Podia ver a si mesmo dormindo sobre a escrivaninha: uma poça de baba sob sua cabeça e várias latinhas de cerveja jogadas ao redor.

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