quinta-feira, agosto 02, 2007

Peta (I)

O Universo é cheio de mistérios e leis imutáveis de que a Física sequer suspeita. Uma dela diz que o encontro “casual” com velhos conhecidos (repare: eu não disse “saudosos”) só acontece quando você está sozinho.

E foi numa sorveteria. Se fosse num bar a coisa teria sido mais suportável. Mas estava prestes a encher as minhas artérias de bobagens ricas e doces, acompanhadas de sorvete de nozes (eu adoro), quando sinto a mão do Destino em meu ombro. Viro e não era o Destino, era o Peta. Grande como a vida. Duas vezes mais feio. Umas quatro mais sujo, mas isso era normal nele: ainda estava no ramo da mecânica, e não há sabão áspero o suficiente para remover completamente traços de óleo queimado das unhas de um sujeito. (Corrigi a palavra “sujeito” aqui. Tinha saído “sujeiro”. Ato falho...) Umas oito mais chato.

Começou a me perguntar pela minha vida, se horrorizou ao saber que eu tinha juntado as escovas de dentes com a minha proprietária, queria saber o quanto eu estava ganhando e em meus planos para o futuro. Falou de seu negócio, de prospecções imobiliárias, invejou pessoas que estavam ganhando rios de dinheiro. Depois tentou falar de sua vida sexual. Aí eu lembrei de como podia me livrar dele sem usa violência, bastava perguntar o que aconteceu em determinada noite da vida dele. Isso correria com ele mais efetivamente que se eu puxasse uma arma e comentasse que “não lembrava se tinha uma bala ou se já tinham ido todas. Ele se sentia com sorte?”

Agora, pra você entender isso eu vou ter que contar a história do apelido do Peta. “Peta” é a contração de “chupeta”, e com isso não me refiro ao troço usado para calar a boca dos bebês, e sim ao ato de sexo oral. O apelido completo era “Chupeta de Fantasma”. Como não dava pra falar isso em certos recintos, foi contraído para “Peta”. É, eu sei. Apelido estranho.

Teve uma época em que o Peta estava com uma oficina em uma cidade do interior que havia acabado de receber uma universidade particular. Isso quer dizer “expansão”, “lucros”. A alta rotatividade de clientes na oficina fazia com que ele viajasse até a cidade vizinha para comprar peças, em vez de encomendá-las como fazia até recentemente, porque demoravam muito a chegar. De costume ia de tarde e voltava à noite com as peças necessárias.

Numa dessas noites viu uma figura parada no meio da estrada. Era uma moça, muito bonita, vestida de branco e sem qualquer tipo de luz na volta. Sentiu um arrepio percorrer a espinha, e passou direto. O problema é que a desgraçada dessa moça pareceu se fixar nele, aparecia todas as vezes que ele passava por ali. Um dia ele criou coragem a parou do lado dela:

- Posso ajudar em alguma coisa?

- Pode me dar uma carona até a cidade? Meu pai e minha mãe estão preocupados e não sabem o que aconteceu comigo, eu tenho que ir até lá avisá-los.

Ele engoliu em seco, e abriu a porta. Ela entrou rápido demais para ele se sentir confortável. Quero dizer, rápido mesmo. De não se ver como. Eles partiram.

Quando estavam chegando em uma curva, uns setecentos metros adiante, ela simplesmente abaixou em direção a ele, abriu seu zíper e começou a chupar o pau do Peta. Ele ficou abismado, mas deixou acontecer. Dirigiu mais alguns minutos assim, recebendo uma chupeta gostosa, e percebeu que estava chegando uma curva perigosa. Tentou tirar a garota dali, mas não conseguiu. E gozou durante a curva, na boca dela. No instante do clímax percebeu que um caminhão vinha do lado errado da pista, em sua direção. A luz dos faróis deixou tudo muito difícil de ver. Peta pensou “Tou morto”, e entregou tudo na mão de Deus.

Claro que ele não morreu, senão não tinha me encontrado na sorveteria anos mais tarde. No instante seguinte ele estava sozinho no carro. Nem sinal da menina, sem sinal do caminhão. Conseguiu, a custo, evitar uma capotagem, só pelo susto. Parou o carro até conseguir parar de tremer, depois voltou pra cidade viajando a alguma coisa entre dois e cinco quilômetros por hora. Quase se cagou quando aconteceu.

Mais tarde ele descobriu que havia acontecido quase igual com um casal, três anos atrás, na mesma curva em que ele viu o caminhão-fantasma: a moça parecia ter se sentido romântica na estrada deserta, estavam indo devagar, ela enchendo a boca e ele tentando se concentrar na estrada. Quando um caminhão apareceu no lado errado da pista. BUM. Três pessoas mortas. A história virou como que uma piada por ali, porque com o choque a menina (era nova, uns dezessete anos) tinha literalmente engolido o pau do cara e teria sufocado com aquilo se não tivesse tido a parte de baixo do seu corpo amassada até parecer uma torta de morangos. Todo mundo morreu na hora.

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