quarta-feira, dezembro 06, 2006

Gargantua, Pantagruel e Escatologia

Pois é. Naquelas de considerar que a falta de um livro universalmente conhecido é uma falha de caráter, além de pura curiosidade às citações de outros livros, resolvi minerar Gargantua e Pantagruel, de Rabelais, para ler. Gargantua consegui em uma biblioteca, Pantagruel consegui em inglês. Eu nem sabia que eram dois livros separados.

E daí chegamos em um ponto importante: eu reconheço a crítica do autor ao sistema de valores da época ao caçoar da maneira de se comportar dos nobres, das crenças nos brasões, das citações gregas e da importância exacerbada à religião. Acho isso muito bacana. Identifico também o elemento satírico, e o aplaudo. Mas discordo da maneira como o autor busca divertir. Parece que os principais motes, bordões, punchlines, são relacionadas à escatologia: ou é um peido prodigioso dado pelo gigante, ou uma demorada reflexão sobre as maneiras de limpar a bunda, uma quantidade indizível de caralhos, bucetas e cus no texto, entremeado de citações em latim ou grego que acabam tornando a história repetitiva, se não incompreensível.

Tudo parece se basear no exagero, com detalhes sobre as dimensões dos objetos e vestuário usados pelos gigantes, as proporções que ingeriam. Eu gosto tanto de um palavrão quanto o cara do lado, mas o exagero não faz senão minimizar o impacto que um palavrão tem - por ser um palavrão. A minha opinião é a de que essa crítica dos "grandes" foi realizada com maior sucesso e de forma mais inteligente (e efetivamente cômica) por Jonathan Swift, em As Viagens de Gulliver. O livro acabado, tou editando o post. Pior é que não mudei de idéia não: fora uns lances engraçados com um frade abatendo os inimigos às centenas com um braço de cruz, não vi nada mais que prestasse. É um clássico, mas é esse tipo de livro. Com certeza teve seu valor, mas a veia cômica não se compara à de um Swift ou um Cervantes.

Pra não perder o tempo de vocês, um veterinário teve que sair do consultório e deixou uma placa: VOLTO LOGO. SENTA. QUIETO. Legal, né? Li numa tirinha do Laerte.

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