O Livro
Quando a marcha dos Cristãos varreu o mundo, subjugando todas as culturas e demonizando seus deuses e rituais, atribuindo a demônios as manifestações divinas e relegando os escritos sagrados dessas culturas ao fogo – quando escritos sagrados houvesse – o Livro foi criado. Segundo os cristãos, pela mão do próprio Samael; segundo as opiniões dos poucos historiadores que dele tiveram notícia, pelos monges encarregados de relatar os sucessos ou eventuais fracassos das missões empenhadas em salvar as almas incultas.
Em 1819 ou 20, veio ao mundo a primeira notícia do Livro, encontrada por um obscuro historiador de nome Herbert Pratchett nos arquivos do Vaticano. Pratchett era um monge e um asceta, e foi o mero acaso que o levou a descobrir o pergaminho contendo uma breve referência aos escritos. Tratava-se de uma condenação de um monge trapista, de nome Domenico, urgindo que o original fosse destruído, pois sua própria presença na biblioteca representava uma mácula para os cristãos. O motivo desse pedido não vinha apenas do conteúdo sacrílego dos escritos, mas principalmente do modo pelo qual os segredos haviam sido obtidos. Havia referências à tortura dos sacerdotes desses cultos, alguns mais antigos que a escrita, incluindo a evisceração e esfolamento. O monge parecia crer que algumas das páginas haviam sido escritas sobre as peles esfoladas dos adoradores renitentes. Nelas, havia um inventário dos ritos e crenças, os nomes dos deuses e como os infiéis faziam para obter as graças de seus deuses misteriosos e inumanos. Acreditando ter nas mãos o fio de uma investigação que levava a um tesouro antropológico sem precedentes, Pratchett abandonou sua pesquisa sobre as heresias que vinha realizando e tentou se dedicar à busca do Livro.
Quando a notícia de sua inusitada busca – tão diferente do pretexto utilizado para ter acesso aos inumeráveis arquivos proibidos da Biblioteca do Vaticano – chegou aos cardeais encarregados, Pratchett foi impedido de continuar suas pesquisas. Isso não o impediu de escrever a respeito, mas, que se saiba, nenhum de seus escritos sobreviveu a ele, sendo todos consumidos em um incêndio suspeito no monastério em que vivia.
Anos depois, um fragmento de manuscrito condenando o livro chegou às mãos de um bibliófilo, aparentemente “subtraído” da Biblioteca do Vaticano. Faz menção a rituais bárbaros e a uma língua sagrada de alguma cultura. Também comenta que o livro é inteiramente encartado em pele, e há alguns indícios de que a pele foi torturada, como queimaduras, etc., incluindo várias páginas tatuadas com símbolos, geométricos e estranhos. Tratava-se de parte de um inventário da Biblioteca, e o responsável aparentemente não sabia ou não se importava com o que estava lidando, fazendo apenas uma descrição desapaixonada. Junto, haviam vários livros proscritos (incluindo A Comédia, de Aristóteles, que nunca chegou a nosso tempo), a maioria comuns. Provavelmente, uma seção restrita da biblioteca. Afinal, conhecer é poder.
Durante o papado de Bórgia, três cópias foram feitas. Aparentemente, para os filhos do papa. Poderiam ter tirado do livro os venenos. Talvez até a Praga. O rastro dessas cópias desaparece nessa época, embora haja algumas inferências de seus paradeiros, principalmente através de “caças às bruxas” e eventos estranhos. Ocorridos esporadicamente.
Suspeita-se que uma cópia tenha sido adquirida por elementos que formavam a elite das SS, incluindo Hitler em pessoa, e utilizada para garantir o poder. Hitler, apreciando a idéia de um original encartado em pele humana, teria determinado a criação de uma nova cópia, para uso pessoal, com as peles dos judeus alemães mortos nas câmaras de gás, tatuadas ou com tinta de ouro (não se sabe qual das opções é verdadeira, uma vez que o livro se perdeu quando, derrotados, os nazistas recorreram à Odessa e sumiram no mundo, disfarçados).
Se as cópias foram parar em mãos de colecionadores de livros, é crível que não foram feitas mais edições. Quanto mais raros, mais os livros valem. Claro que um bibliófilo poderia pensar diferente sobre disseminação de cultura, então, nada é certo.
Alguns estudiosos menos responsáveis acreditam que Lovecraft teria se inspirado na lenda do Livro para criar seu Necronomicon, mas, embora fosse um literato e um estudioso do oculto, nada indica que Lovecraft tenha tido acesso aos dados de que necessitaria para suspeitar de sua existência. Mas poderia ter sido contatado por um conhecedor, uma vez que seus escritos eram muito lidos.
Pelo menos três bibliotecas alegaram possuir o Livro desde os anos 50, mas, quando a questão foi averiguada, descobriu-se que eram cópias baratas, compilações de feitiços e superstições modernas. Talvez o Livro original também não fosse mais do que isso, mas ao menos os ritos e crenças inventariados eram antigos e reais. Uma das alegadas cópias era uma versão modificada de Capa de Aço, supostamente de São Cipriano. Não se sabe se as bibliotecas foram iludidas por vendedores inescrupulosos ou se o eram os próprios curadores, de modo que não cabe citar nomes. O assunto é obscuro o suficiente, de resto, para não despertar atenção a não ser nos meios especializados – e comerciantes sérios de grimoires e livros místicos raros formam um grupo especializado raro o suficiente para passar praticamente despercebido.
Em 1819 ou 20, veio ao mundo a primeira notícia do Livro, encontrada por um obscuro historiador de nome Herbert Pratchett nos arquivos do Vaticano. Pratchett era um monge e um asceta, e foi o mero acaso que o levou a descobrir o pergaminho contendo uma breve referência aos escritos. Tratava-se de uma condenação de um monge trapista, de nome Domenico, urgindo que o original fosse destruído, pois sua própria presença na biblioteca representava uma mácula para os cristãos. O motivo desse pedido não vinha apenas do conteúdo sacrílego dos escritos, mas principalmente do modo pelo qual os segredos haviam sido obtidos. Havia referências à tortura dos sacerdotes desses cultos, alguns mais antigos que a escrita, incluindo a evisceração e esfolamento. O monge parecia crer que algumas das páginas haviam sido escritas sobre as peles esfoladas dos adoradores renitentes. Nelas, havia um inventário dos ritos e crenças, os nomes dos deuses e como os infiéis faziam para obter as graças de seus deuses misteriosos e inumanos. Acreditando ter nas mãos o fio de uma investigação que levava a um tesouro antropológico sem precedentes, Pratchett abandonou sua pesquisa sobre as heresias que vinha realizando e tentou se dedicar à busca do Livro.
Quando a notícia de sua inusitada busca – tão diferente do pretexto utilizado para ter acesso aos inumeráveis arquivos proibidos da Biblioteca do Vaticano – chegou aos cardeais encarregados, Pratchett foi impedido de continuar suas pesquisas. Isso não o impediu de escrever a respeito, mas, que se saiba, nenhum de seus escritos sobreviveu a ele, sendo todos consumidos em um incêndio suspeito no monastério em que vivia.
Anos depois, um fragmento de manuscrito condenando o livro chegou às mãos de um bibliófilo, aparentemente “subtraído” da Biblioteca do Vaticano. Faz menção a rituais bárbaros e a uma língua sagrada de alguma cultura. Também comenta que o livro é inteiramente encartado em pele, e há alguns indícios de que a pele foi torturada, como queimaduras, etc., incluindo várias páginas tatuadas com símbolos, geométricos e estranhos. Tratava-se de parte de um inventário da Biblioteca, e o responsável aparentemente não sabia ou não se importava com o que estava lidando, fazendo apenas uma descrição desapaixonada. Junto, haviam vários livros proscritos (incluindo A Comédia, de Aristóteles, que nunca chegou a nosso tempo), a maioria comuns. Provavelmente, uma seção restrita da biblioteca. Afinal, conhecer é poder.
Durante o papado de Bórgia, três cópias foram feitas. Aparentemente, para os filhos do papa. Poderiam ter tirado do livro os venenos. Talvez até a Praga. O rastro dessas cópias desaparece nessa época, embora haja algumas inferências de seus paradeiros, principalmente através de “caças às bruxas” e eventos estranhos. Ocorridos esporadicamente.
Suspeita-se que uma cópia tenha sido adquirida por elementos que formavam a elite das SS, incluindo Hitler em pessoa, e utilizada para garantir o poder. Hitler, apreciando a idéia de um original encartado em pele humana, teria determinado a criação de uma nova cópia, para uso pessoal, com as peles dos judeus alemães mortos nas câmaras de gás, tatuadas ou com tinta de ouro (não se sabe qual das opções é verdadeira, uma vez que o livro se perdeu quando, derrotados, os nazistas recorreram à Odessa e sumiram no mundo, disfarçados).
Se as cópias foram parar em mãos de colecionadores de livros, é crível que não foram feitas mais edições. Quanto mais raros, mais os livros valem. Claro que um bibliófilo poderia pensar diferente sobre disseminação de cultura, então, nada é certo.
Alguns estudiosos menos responsáveis acreditam que Lovecraft teria se inspirado na lenda do Livro para criar seu Necronomicon, mas, embora fosse um literato e um estudioso do oculto, nada indica que Lovecraft tenha tido acesso aos dados de que necessitaria para suspeitar de sua existência. Mas poderia ter sido contatado por um conhecedor, uma vez que seus escritos eram muito lidos.
Pelo menos três bibliotecas alegaram possuir o Livro desde os anos 50, mas, quando a questão foi averiguada, descobriu-se que eram cópias baratas, compilações de feitiços e superstições modernas. Talvez o Livro original também não fosse mais do que isso, mas ao menos os ritos e crenças inventariados eram antigos e reais. Uma das alegadas cópias era uma versão modificada de Capa de Aço, supostamente de São Cipriano. Não se sabe se as bibliotecas foram iludidas por vendedores inescrupulosos ou se o eram os próprios curadores, de modo que não cabe citar nomes. O assunto é obscuro o suficiente, de resto, para não despertar atenção a não ser nos meios especializados – e comerciantes sérios de grimoires e livros místicos raros formam um grupo especializado raro o suficiente para passar praticamente despercebido.
5 comentários:
Pow InVino, to ficando meio viciada nisso aki!
rsrsrsrs
Ah, entre "O Homúnculo" e "Pansexual", eu fico com "O Humúculo".
Hmmm... Eu acho que eu prefiro o Pansexual... no bom sentido, no bom sentido!!!
XD
O fim do conto me surpreende (ou me surpreenderia, se eu não tivesse escrito a coisa). Sei lá. Inusitado.
Mas cada cabeça, uma sentença. Obrigado pela visita.
;^)
Invino, já ouviu falar dos "homens de preto", não os do filme de alienígenas, os originais mesmo... tudo bem, não sei se existiram de verdade, mas ouvi uma história de que eles queimaram a biblioteca de Alexandria para proteger a humanidade de conhecimentos que poderiam ser "perigosos"...
Antes de voltar a expressar minha predileção por "A Visita" vou procurar a história do "Pansexual".
Abs
Seus contos sao muito bons cara!!! até agora eu li todos q vc postou, e estou disfrutando a beça!!! sobr o Harry Potter, pô nem sei se é fanfic... na verdade eu nao gosto do Harry Potter... postei por postar.. se vc quiser ler e analizar se é quente...
Pelo q vc falou no ultimo comentario parece q sim... nem sei..
Valeu pelas visitas doutor!!! Um grande abraço!!!
Ahhh, minha esposa está gravida d 5 meses!!!! Novo farrista na área!!!
fui
Blog, eu não sabia dessa história... XD achei engraçada. Até porque o filme foi feito com base na lenda urbana... só que agora parece que não são homens de preto, e sim helicópteros pretos silenciosos que te observam do alto, na noite.
Negrito, parabéns!!!!!
Dá pra entender sua falta. E daí? UM farrista ou UMA farrista??? A partir de agora fecho a minha boca a respeito de sua ausência. Juro.
Hmm... obrigado por lerem, pessoal.
;)
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